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Foto do escritorCristina Baptista

O magnífico cérebro do adolescente


É um facto que a adolescência tem “má reputação” e nem sempre é um período fácil, quer para a família, quer para o adolescente.
Se é professor ou pai/mãe de jovens nesta fantástica fase, já se deparou certamente com situações como estas:

* Tudo é “muito” ou “nada”: há um desequilíbrio nas emoções, que se reflete na sensibilidade e na irritabilidade exageradas;
* Não “sintonizam” com o mundo dos adultos, reagindo de forma exacerbada e rejeitando aquilo que os adultos dizem;
* Refugiam-se no isolamento ou num grupo de amigos e nas redes sociais;
* Têm comportamentos de risco e tendência a experienciar situações não familiares

No seu recente livro, Brainstorm: The Power and Purpose of the Teenage Brain, Daniel Siegel apoia-se na pesquisa recente na área da neurobiologia para explicar o porquê desde comportamentos e do associado funcionamento da mente durante a adolescência, entre os 12 e 24 anos. Afinal não é tão simples como adicionar anos a um cérebro de 10! Na realidade pode dizer-se que um jovem ao chegar à adolescência obtém um cérebro totalmente novo. Siegel procura, de forma sensata, mostrar-nos como a evolução do cérebro dos adolescentes e dos traços de personalidade concomitantes, servem um propósito maior: a preparação para deixarem o ninho e se tornarem adultos equilibrados, autónomos e autorregulados.

A maioria dos adolescentes age com base em 4 dimensões:
1. Excitação - Fazer algo simplesmente pela emoção de fazê-lo.
2. Novidade - A constante procura para encontrar e expressar a sua própria identidade.
3. Risco - A busca de situações não familiares, cujos resultados são desconhecidos.
4. Ligação - A exploração de interações sociais com os pares.

Ou seja, os atos dos adolescentes visam satisfazer e atingir estes quatro objetivos. Por quê? À medida que os seus cérebros se formam (entre a infância e a vida adulta), eles estão já a preparar-se para a vida autónoma, sem a rede de segurança da mãe e do pai. Na busca da sua identidade, o cérebro impele-os naturalmente para que explorem os seus dons, as suas potencialidades e a melhor forma de se encaixarem no mundo e com quem se querem relacionar; do mesmo modo incentiva que tudo isso se faça de forma autónoma. E, de acordo com Siegel, se o cérebro não direcionar o comportamento do adolescente neste sentido, ele não estará pronto para ser adulto no tempo devido.

Vamos a factos:

O “cérebro emocional” é mais ativo durante a adolescência do que em qualquer outra fase da vida. E o que é que isso significa?? Bom, fique a saber que se mostrar uma foto com um rosto neutro a um adulto, ele ativa a córtex pré-frontal (raciocínio), enquanto a mesma foto ativa a amígdala (área emocional) do cérebro adolescente. Consequentemente os adolescentes podem sentir-se completamente convictos que uma face neutra é hostil ou que uma observação inocente por parte de um adulto é agressiva. É o sistema límbico inferior que se está a preparar para enfrentar o mundo lá fora.
Quando um adolescente reage de forma exagerada consigo, tente não levar isso “a peito” e não pessoalize. Corresponder à agressividade de um adolescente com a nossa própria agressividade pode escalar rapidamente e atingir dimensões catastróficas. Em vez disso espere 90 segundos - a quantidade de tempo que levam as emoções exacerbadas a diminuir. Então diga: "Houve um pouco de tensão há pouco. Podes dizer-me o que estavas a sentir?" Estudos sobre o cérebro mostram que a nomeação de emoções ativa o córtex pré-frontal e acalma emoções.

A dopamina é um neurotransmissor que ajuda a controlar os centros de prazer e de recompensa. Os níveis basais de dopamina são mais baixos durante a adolescência, no entanto, quando o cérebro desencadeia o processo, em resposta a novidades, gargalhadas, posts e redes sociais, futebol, gomas, jogos eletrónicos e risco, os níveis são maiores do que em qualquer outra fase do desenvolvimento humano.
Infelizmente, o aumento do desejo de recompensa ou do prazer imediato pode levar ao que é muitas vezes (incorretamente) classificado como impulsividade. Um termo melhor é "hiper racionalidade": é que ao examinar os factos de uma situação, o adolescente vai colocar mais peso sobre os benefícios calculados da ação do que sobre os riscos potenciais dessa mesma ação.

A adolescência é um período de variadas mudanças tanto para os jovens como para as famílias. Para garantir que pais e filhos vivenciem esta fase de forma adequada é importante compreendê-la numa perspetiva global, desde as alterações que acontecem física e cognitivamente e o seu impacto na vida dos adolescentes até à importância dos adultos como facilitadores deste processo.

Não tendo fórmulas mágicas, mas à luz dos novos conhecimentos sobre o funcionamento cerebral próprio da adolescência, deixamos aqui algumas sugestões:
· Use de empatia e privilegie a escuta ativa: acolha o adolescente, sem julgar, sem criticar. Escute sempre, ainda que não goste ou discorde das suas ideias.
· Não imponha nem sugira. Recorra a boas perguntas: leve o adolescente a refletir e a tomar decisões, responsabilizando-se pelas mesmas. Isso vai dar protagonismo ao adolescente e empoderá-lo.
· Evite superproteger, proibindo-o ou impedindo-o de explorar qualquer risco. Táticas de intimidação, advertências e conselhos de pouco servem. Ao invés de dirigir negativamente o adolescente para que abandone os seus planos de risco, é preferível respeitar os seus objetivos, e encontrar soluções (em conjunto com ele) que o impulsionem para os limites das alternativas “mais saudáveis”.
· Perante resultados menos positivos ou insatisfatórios não diga que é imaturo, irresponsável, um desastre, um problema, que não se pode confiar nele, que não faz nada bem e que “não é capaz de se empenhar nos estudos” ou outras expressões com significados equivalentes. Pode dizer-lhe que não estuda, mas apenas quando isso for verdade e assegurando-se que têm conceções semelhantes da expressão “estudo”. Seja claro na definição da situação/problema.
· Do mesmo modo evite expressões como “és um inútil para os estudos”, “não sei o que será de ti”, “assim, nunca vais passar”, “é bem feito teres negativa para ver se aprendes”, “A mim também me custou muito estudar, mas fi-lo”. Este tipo de expressões apenas expõem o desespero dos pais e transmitem a mensagem de que desistiram deles ou estão prestes a fazê-lo. São atitudes que não motivam ninguém para o estudo, mas sim a deixar de o fazer porque acreditam que na verdade, a sua falta de eficácia e de vontade não terão solução mesmo que se proponham estudar.

Agora que já sabe um pouco mais sobre o cérebro do adolescente, de certeza que se sente mais preparado para ajudar o/a seu/sua adolescente e a família a passa por esse momento. E lembre-se que, em todas as fases da adolescência, o processo de Coaching pode dar uma grande contribuição para o desenvolvimento dos jovens, pois atua de forma específica e pontual, auxiliando os jovens a terem mais equilíbrio, autorresponsabilidade, autoestima e confiança.


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